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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Que venha o verão!

Sei que preciso atualizar muitas coisas por aqui, estou há mais de uma semana atrasada, mas acho melhor postar logo sobre o primeiro dia no camp. Afinal, foi para isso que vim até aqui.

Confesso que estava ansiosa, a ideia de ter várias crianças conversando em inglês comigo - ao mesmo tempo - não era uma coisa de se pode mensurar durante o treinamento que tive no Brasil. E quer saber? Eu estava certa pela ansiedade. 

Acordei as 7h, pois a minha carona passaria na casa da minha host family às 8h para me buscar. A minha carona, que btw é minha co-worker, mas ela trabalha com o grupo teen e que também é sobrinha da minha host mammy, que btw é também minha chefe. Quando estava terminando de me aprontar a minha host grandma - que é jamaicana e possui um sotaque bastante carregado - começou a me apressar dizendo que a neta dela já estava vindo, que eu tinha que tomar o café da manhã rápido, que eu ia me atrasar e tal. 

Eu estava amarrando o cadarço do tênis estaria pronta em alguns segundos, olhei para ela e calmamente disse que já estava descendo e que o combinado com a neta dela (minha carona) era as 8h, e que portanto eu ainda tinha tempo. 

Desci a escadaria da casa e ela já estava lá embaixo na cozinha arrumando alguma coisa que eu nem percebi o que era. Só ouvia ela dizendo coisas imcompreensíveis que eu tenho certeza que não era apenas inglês, mas alguma espécie de dialeto jamaicano. O problema mesmo era o tom de voz, pois parecia que era algo ruim...como se ela estivesse insatisfeita com algo que eu estivesse fazendo. 

Enfim, só sei que eu terminei de tomar o meu café - cereais com morangos picados - com ela me assistindo durante toda a refeição. Depois fui aprontar o meu almoço e os dois snacks para o dia no camp (leia-se sanduíche de pão de forma com peito de peru, tomate e alface e molho ranch; suco de morango; iogurte; banana e chips). Terminei tudo faltando ainda dez minutos para as 8h. Eu olhei pra ela e disse: viu, falei que dava tempo! 

Daí ela abriu um sorriso pra mim e acho que tudo ficou bem. Deu tempo ainda de escovar os meus dentes quando a minha carona chegou. 

A minha co-worker tem três anos de YMCA e entende bem todos os processos e problemas do camp. Ela falou sobre a experiência dela no caminho para o camp. Passamos em uma Elementary School, onde ela também trabalha no After School - um programa da YMCA que acontece depois da aula das crianças (óbvio). 

Ela tem 23 e tem o próprio carro, como a maioria das pessoas maiores de 16 anos por aqui. O carro dela é legal e todo decorado com símbolos da Jamaica. Notei, porém, no banco do passageiro uma espécie de penduricalho, que fica bem no encosto e que dói quando a gente tenta sentar confortavelmente, cheio de balangandãs em formatos de pênis e pintados com a bandeira da Jamaica. Na ponta do penduricalho uma foto do Bob Marley e o seguinte escrito em espanhol: Legalize já. O som do carro dela fazia um barulho bem alto que era meio difícil decifrar o que ela dizia. 

Chegamos ao camp. Os pais estavam deixando as crianças, mas já haviam muitas lá dentro. Guardei a minha lancheira (sim, eu tenho 8 anos) e minha bolsa numa sala perto da quadra e comecei a andar pelos bloquinhos de crianças que estavam espalhadas conversando, jogando alguns jogos de tabuleiro e coisas do tipo. Conversei com um grupo composto de uma menina e três meninos. Um dos meninos conversou comigo feito adulto, perguntou coisas sobre o Brasil e as atividades que seriam ministradas naquele dia. No meio da conversa, ele abriu um imenso sorriso, estendeu-me a mão e disse: Nice to meet you, I'm David. Nesse exato momento eu tive certeza de que poderia fazer o verão daquelas crianças diferente. (e é o que eu espero fazer, mesmo).  

Logo após isso, a minha chefe e host iniciou a celebração de abertura oficial do camp separando as crianças em grupos de 6 - 8 e 9 - 11 e 12 - 15. Em seguida, a divisão foi por sexo e ela começou a explicar algumas regras e a apresentar o staff para as crianças. 
Na minha vez, ela disse que eu era uma counselor especial e eu logo apontei para as crianças para o botton da bandeira do Brasil que eu carregava na blusa do uniforme. De repente, ela me repreeendeu: Não diga nada a eles ainda! E foi então que ela perguntou para as crianças de onde eles acham que eu era. Alguns disseram Venezuela, Bolívia, mas a maioria gritou bonito BRASIL. Daí, a minha chefe explicou que eu era especial porque não tinha ainda name-tag. De fato, continuo não tempo, bem...se isso é ser especial, vejamos até o fim do verão se eu vou continuar sendo. 

Após a divisão, ela me encarregou do grupo de 6 anos junto com a minha - já - amiga Loyda. Ela nasceu no México e ficamos próximas desde o primeiro dia do treinamento. O nosso grupo tinha apenas oito meninas - que mais tarde escolheram o nome de Pink Penguins para o grupo. 

Mas, acreditem ou não. Oito meninas dão o maior trabalho. Após a prece e cantarmos uma música, nosso grupo saiu para o café da manhã. As meninas estavam ansiosas e muitas perguntavam pelo schedule e se iriam nadar naquele dia. Na verdade, eu e Loyda não tínhamos o schedule em mãos ainda e era difícil controlar a ansiedade das meninas sem certas informações consistentes. 

Após o lanche, certifiquei-me se todas tinham passado protetor solar em casa e constatei que algumas não, então, fomos até o banheiro e elas se ajeitaram com a loção - por aqui, os counselors não têm autorização para tocar as crianças o máximo que posso fazer é borrifar o protetor solar, em caso de embalagem spray. 


Essa semana será especial no camp, pois teremos dias específicos para diferentes países. As crianças vão aprender sobre a cultura, tradição, localização e curiosidades do México, China e Jamaica. O Brasil? Bem, teremos uma semana inteirinha para falar sobre o Brasil no fim do verão - acho que isso entra na categoria especial lá de cima também, certo? 


O fato é que depois de todas estarem protegidas do sol, fomos preparar o passaporte delas para fazer as "viagens" dessa semana. Foi muito bacana porque todos os campers tiraram foto de verdade que foram reveladas na mesma hora para que eles pudessem colar no passaporte. Após essa atividade, eles coloriram um desenho sobre o México - uma espécie de preparação para a "viagem" do dia seguinte. 


Finalizada a sessão Arts & Crafts era a hora de enfrentar o calor escaldante do Texas e jogar alguns jogos do lado de fora do ar condicionado da quadra. Na verdade o jogo, que não foi ministrado por mim nem por Loyda, não rendeu muito já que as crianças estavam morrendo de calor e a cada cinco minutos tivemos um break para a água e para banheiro. 


Na hora do almoço, tudo correu bem, apesar da persistência das crianças em perguntar pela hora de nadar. O fato é que o meu grupo só poderá nadar nesta terça. Depois do almoço, voltamos para a quadra e fizemos mais uma atividade de Arts & Crafts um bracelete com miçangas e desenho livre. 


De volta para a quadra externa, jogamos várias modalidades de pega-pega. Algumas americanas e algumas brasileiras - que aprendi durante o treinamento. Eu acho que fui a única counselor correndo feito louca junto com as crianças, cantando música na hora dos breaks e fazendo gracinhas durante os jogos, mas eu nem me importei com isso. 


Duas crianças simplesmente fizeram todas as atividades com giz de cera usando as cores do Brasil. Daí elas iam sempre até mim e mostravam se estava bom, se eu tinha gostado. Até o fim do dia, vários meninos e meninas de outros grupos vieram até mim perguntando coisas do Brasil e o porquê da diretora do camp ter dito que eu era especial. Eu disse que era porque eu era a única counselor sem name-tag, eles riram demais. 


Tive alguns momentos difíceis, como numa das brincadeiras - telefone sem fio - uma menina falou uma sentença nada apropriada para o camp; ou quando duas meninas começaram a brigar; ou quando uma menina era acusada de bullying a cada cinco minutos, ou quando uma garota pedia para ir ao banheiro apenas para aproveitar do ar condicionado, mas quer saber? Apesar de todo o cansativo dia - que me rendeu (pra variar) dor de cabeça - estou superfeliz e sei que esse é só o começo. Que venha o verão! I'm ready.

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